Sua dignidade está totalmente associada com seu caráter e é valor intrínseco de sua personalidade. Dignidade não se aprende e também não se compra.
Lembro-me com muita nitidez de uma cena que presenciei quando criança. Foi em uma fila para compra de ingressos para uma corrida de carros. À frente estava uma família com duas crianças chegando ao guichê para aquisição das entradas.
Estavam bem vestidos. Eram nitidamente de boa cultura. Pessoas boas, felizes, sorridentes.
Para o evento em questão, havia um valor reduzido para aqueles que fossem menores de 8 anos. Quando, então, aquela exemplar família chegou ao balcão, o funcionário do autódromo perguntou qual era a idade da criança, para saber qual valor cobrar.
Uma delas evidentemente tinha mais de 8 anos de idade. A menor falou “oito”, em sincronia com o seu progenitor, que disse “sete”. A voz do pai, mais imponente é que foi levada em consideração. Ele conseguiu o ingresso mais barato.
Aquele homem agiu com a melhor das intenções. Ele se via como uma pessoa super esperta, que sabe das artimanhas da vida adulta. Só estava tratando de economizar alguns trocados enquanto promovia um pouco de diversão para sua mulher e filhos. Que exemplo! Tudo em nome da família!
Mas… Pera aí!
E se o atendente tivesse dado ouvidos àquele que estava só começando na vida? Com que cara ficaria o macho-alfa ao ser pego em ação? Onde ele se esconderia? O que ele sentiria? Ele mesmo que já falou tantas vezes para o seu filho que devemos ser honestos.
E pensar que isso foi feito por R$5 ou R$10. Que fossem milhões! De dólares! Não importa.
Nada justifica a quebra da dignidade de um ser humano! Isso independente da quantia de dinheiro ou qualquer outro tipo de vantagem que estiver na mesa. Não podemos trocar nosso valor humano por nada. Isso não se negocia. A vida não tem gosto sem integridade.
Temos que ser irredutíveis em nossos princípios. Até porque, como foi na ocasião, estamos sempre servindo de referência para alguém. Responsabilizarmo-nos por nossa própria autenticidade é também trabalhar pela dos outros.
No momento em que os dois responderam juntos, o filho foi brindado com um olhar e uma contração milimétrica de alguns músculos faciais que reprovava veementemente a sua atitude.
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Rápida e efetiva interação para que o pirralho entendesse que deveria se recolher à sua pequenice. Oprimido por se manifestar; por tentar fazer o que era justo e bom; por falar a verdade. E isso tudo vindo do seu pai, um modelo relevante para a formação do seu caráter.
Quão louco não terá sido isso para a cabecinha daquele guri.
Uma fisionomia paterna que durou frações de segundo, mas capaz de ressoar por anos em sua psiquê.
Todos certamente passamos por experiências semelhantes diversas vezes. Já fomos testemunhas de inverdades, de malandragens, de pequenas corrupções, cometidas por modelos – na TV, na empresa, com os amigos etc. A boa notícia é que a nossa personalidade se mantém elástica, se assim a estimularmos.
Com maturidade, portanto, podemos encarar esse tipo de atitude aplicando olhar crítico e escolher consolidar outro registro de comportamento. Somos capazes de reconstruir a humanidade que por vezes a cultura que nos cerca pode comprometer.
E, ao cuidarmos dos pequenos detalhes de nossa conduta, estaremos encorajando outros a também reforçarem essa corrente construtiva.